quarta-feira, 19 de agosto de 2009

E quando não estás, carrego-te comigo.


Sinto a tua falta como se tivesse perdido uma parte de mim, um pedaço. Ando me arrastando desde que partiste, fazendo corpo mole para o trabalho, demorando mais tempo pra levantar-me. Ainda que por um curto espaço de tempo, é como se me faltasse um membro. Meu corpo acostumou-se com o encosto que fazes com os ombros e como que um ritual que fazes até que eu pegue no sono. Como uma criança mimada que não sossega até ser embalada. Acostumei-me com as combinações de tempo. A rotina nossa. E desde que nos conhecemos tenho aprendido a doar-me mais. A gostar menos de estar sozinha. Construímos nosso cotidiano. Não és mais acessório, permanece. Tu me bastas. E quando faltas imagino-te próximo, sentando-se comigo para o café, me acordando com aquelas brincadeiras que pareciam estranhas, mas que são só disfarce, a maneira que tens de mostrar-me que quando acorda está feliz que ali do lado eu esteja. Carrego-te nos bolsos e ando na beirada da rua como se logo ao lado estivesse tu, naquele teu jeito de me encurralar na calçada dizendo que é proteção. Mantenho as mãos juntas como se eu pudesse apertar teus dedos. E em cada pedaço do dia enxergo-te de alguma maneira. Carrego-te em meus poros, na pele arranhada e mordida, marcada pela feracidade de quando me toma como tua. Carrego-te pra baixo e pra cima, comigo.

quarta-feira, 1 de abril de 2009

Devaneios

Me expresso melhor quando escrevo. Queria eu ser mais prática e menos indecisa. O sorriso, dizem, é a característica que sobressai. Quem me conhece melhor, sabe que não sou sempre a mocinha, já fui vilã algumas vezes. Não simulo afeição, eu te amo é frase cara. Já os homens, usam de muita falácia com nós mulheres. O meu fraco são as palavras, os homens mais inteligentes que eu, não pela astúcia, pelo conteúdo. Prefiro-os leais à fiéis. Já o amor é inegavelmente belo, mesmo para aqueles que já colocaram sua existência à prova. Não tolero qualquer companhia e muitas vezes fico com os filmes, preciso de uma dose diária de solidão. Escrava das minhas vontades por forte egoísmo, sou intensa no que faço, consequentemente de extremos. Não sei ser metade, sem que isso seja visivelmente notado. Tento me manter no controle e não tirar facilmente os pés do chão. Hoje eu sei que uma parte deve existir fora dos sonhos, para diminuir o impacto da queda. Mais uma de minhas vãs teorias que não consigo por em prática. Coleciono-as. Vivo em constante devaneio. Já assisti a filmes que mudaram minha vida, até o dia seguinte...Há duas partes de mim que não se entendem nunca. É a contradição. Para mim, a característica mais forte. Nem sempre uma idéia exclui a outra. Um gosto. Uma pessoa. Até mesmo a alegria e a tristeza são interdependentes. Aparento ser forte, mas sou frágil. Tenho mania de limpeza, mas não sou uma mulher fresca. Reclamo um bocado, mas sorrio para as pessoas na rua. Dou bom dia. Escuto pessoas desconhecidas, muitas delas já me contaram uma vida em um dia. Isso quando quero, do contrário sou amarga e sei ser grosseira. Não grite comigo, tenho o péssimo hábito de revidar. Sou cínica, sarcástica e irônica, dona de um senso de humor inabalável. Não obedeço a regras sem questioná-las, a menos entendê-las, meu espírito é anarquista. Não espere de mim tristeza por muito tempo. Me refaço. Sou feita de frases e fases, numa eterna inconstância de ser, tenho medo de ser a mesma todos os dias, leva ao enfado. Não sei se defeito, não sou ambiciosa. Ainda acredito que maluco é quem diz que não é feliz. Sempre há um momento no dia em que sou feliz. Seja no sorriso do meu filho, numa conversa amiga ou no alívio que sinto quando coloco os pés em casa e muitas vezes nos meus momentos de solidão. Sou alegre por natureza. Tenho compulsão por doces, em especial chocolates e sorvetes, mas não sou gorda, ainda. Não sou permanente, sou inconstante nas idéias, no humor e nos sentimentos. Não completa. Não menos falha que todo o resto. Descontente. Imperfeita. Impura e profana. Não vulgar. Por hora me pinto como acho melhor e mais certo. Não gosto de animais de estimação. O transporte coletivo e os pombos me tiram a razão. Já com a música transcendo. Pode-se dizer que sou ruim da cabeça e doente do pé já que não gosto de samba e não consigo sequer mexer os quadris para dançar. As crianças de rua não me são banais. Noto-as todas. São vítimas de uma sociedade hipócrita e mal estruturada. Não acho engraçado quando me deparo com erros graves de português, a realidade brasileira é muito triste. Poucos têm acesso à cultura e lamentavelmente se acham melhores por isso. Num País onde o futebol reina e a novela lidera no gosto popular, a literatura, ainda é para poucos. Por fim, sou realista sem ser pessimista. Sou simples e incompreendida, embora seja aquilo que se vê. Desnecessário dizer que tudo isso não me define. Uma análise, nem isso, algumas características fúteis, os tuas observações sempre seriam outras.